31 de jul. de 2010

Robert Darton, "A questão dos livros"


Na obra "A Questão dos Livros" (Companhia das Letras, 2010), o historiador Robert Darnton denuncia o risco de concentração de conhecimento nas mãos de uma única empresa.
O intelectual, diretor da biblioteca da Universidade de Harvard (um dos maiores acervos do mundo), se refere mais especificamente ao Google, que atualmente negocia a digitalização das bibliotecas dos principais centros universitários dos EUA. A intenção da megacorporação é escanear as coleções e torná-las acessíveis na rede mediante assinaturas pagas.
Darnton falará do tema, com Peter Burke, de "Uma História Social do Conhecimento" (Zahar), e John Makinson na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), nos dias 5 e 6 de "A Questão dos Livros" ainda traça um panorama da história das publicações impressas e arrisca previsões sobre qual destino terão com a digitalização.
Com um texto simples e acessível, Darnton levanta debates essenciais sobre o futuro do conhecimento em nossa sociedade, questão que envolve desde o acesso livre à obras raras e fora de catálogo, até as grandes polêmicas com direitos autorais.


28 de jul. de 2010

Nuvens de tormenta sobre o Irã

Por Noam Chomsky
 
A grave ameaça representada pelo Irã é considerada uma das piores crises de política externa que a administração Obama enfrentará. O Congresso acaba de enrijecer as sanções contra o país, com punições mais severas para as companhias estrangeiras que comercializarem com o Irã. A administração expandiu ainda a capacidade ofensiva norte-americana na ilha africana Diego Garía, reforçada pelo Reino Unido, que expulsou a população local para que os Estados Unidos (EUA) pudessem construir ali uma grande base de ataque ao Oriente Médio e à Ásia Central.
 
A marinha estadunidense informou sobre o envio de uma equipe para a ilha, destinada à manutenção de submarinos portadores de mísseis Tomahawk, que, por sua vez, podem transportar ogivas nucleares. De acordo com o relatório da Marinha obtido pelo Sunday Herald (Glasgow), o equipamento militar inclui 387 bombas ‘destruidoras de bunkers’, que podem explodir estruturas subterrâneas reforçadas. "Eles estão ativando a engrenagem para a destruição do Irã", disse o diretor do Centro para Estudos Internacionais e Diplomacia da Universidade de Londres, Dan Plesch, ao jornal. "Os bombardeiros e mísseis de longo alcance estão prontos para destruir 10 mil alvos no Irã, em poucas horas", completa.
 
A imprensa árabe informa que uma frota americana (com um navio israelense) passou recentemente pelo Canal de Suez a caminho do Golfo Pérsico, onde sua missão era "implementar sanções contra o Irã e controlar os navios que entram e saem deste país". A mídia britânica informou também que Israel e Arábia Saudita estão formando um corredor para um possível bombardeio israelense contra o Irã (o que é negado pelos sauditas).
 
Retornando de uma visita ao Afeganistão para tranquilizar seus aliados na OTAN - após a demissão do general Stanley McChrystal - o almirante Michael Mulleno, chefe de Estado-Maior conjunto, visitou Israel para se reunir com o chefe das Forças Armadas e Militar de Israel, Gabi Ashkenazi, para manter, assim, o diálogo ‘estratégico’ entre as duas nações. A pauta central da reunião foi "a preparação de Israel e dos EUA ante a possibilidade de um Irã com capacidade nuclear", segundo o jornal Haaretz, que também informou que Mulleno enfatizou: "Eu sempre tento ver os desafios do ponto de vista de Israel".
 
Alguns analistas descrevem a ameaça iraniana em termos apocalípticos. "Os EUA devem enfrentar o Irã ou entregar o Oriente Médio", disse Amitai Etzioni. Se o programa nuclear do Irã se concretiza, segundo ele, Turquia, Arábia Saudita e outros estados se "movimentarão" em alinhamento a nova superpotência na região. Em uma retórica menos fervorosa, isto significa que uma aliança regional independendo dos EUA poderia se conformar.
 
Na revista do exército estadunidentes Military Review, Etzioni clama aos EUA não só um ataque contra as instalações nucleares do Irã, mas também contra seus ativos não nucleares, incluindo a infraestrutura do país, ou seja, a sociedade civil. "Esse tipo de ação militar é semelhante às sanções: causar danos visando mudar condutas, ainda que por meios mais potentes", escreve ele.
 
Uma avaliação oficial sobre a ameaça iraniana foi realizada em um relatório do Departamento de Defesa norte-americano submetido ao Congresso em abril passado. Os gastos militares do Irã são "relativamente baixos em relação ao resto da região", afirma o documento. A doutrina militar do Irã é estritamente "defensiva (...) destinada a retardar uma invasão e forçar uma solução diplomática aos conflitos". Ele ainda afirma que "o programa nuclear iraniano e sua vontade de manter em aberto a possibilidade de desenvolver armas nucleares (são) uma parte central de sua estratégia de dissuasão".
 
Para Washington, a capacidade de dissuasão do Irã é um exercício ilegítimo de soberania que interfere na geopolítica global e, especificamente, ameaça o controle estadunidense sobre os recursos energéticos do Oriente Médio. Mas a ameaça do Irã vai além da dissuasão. Teerã também está buscando ampliar sua influência na região, em contraposição a invasões e ocupações militares ‘estabilizadoras’ promovidas pelos EUA nos países vizinhos. “Para além destes crimes, o Irã está apoiando o terrorismo por meio do respaldo que dá ao Hezbollah e Hamas - as principais forças políticas no Líbano e na Palestina”, complementa o relatório do Pentágono.
 
O modelo de democracia no mundo muçulmano, apesar de suas falhas graves, seria a Turquia, onde as eleições são relativamente livres. A administração Obama ficou indignada quando este país se uniu ao Brasil para buscar um acordo com o Irã em relação às restrições em seu programa de enriquecimento de urânio. Os EUA reprimiram rapidamente o acordo, apresentando uma resolução no Conselho de Segurança da ONU com novas sanções contra o Irã – tão sem sentido que foi imediatamente endossada pela China, para quem, na melhor das hipóteses, a resolução evitaria a competição dos países ocidentais pelos recursos do Irã. Assim, sem nenhuma surpresa, Turquia e Brasil votaram contra a medida norte-americana, enquanto o Líbano se absteve.
 
Estas ações causaram um constrangimento ainda maior em Washington. Philip Gordon, o diplomata da administração Obama em assuntos europeus, advertiu a Turquia que suas ações não agradavam os EUA e que o país deveria "demonstrar seu compromisso de aliada ao Ocidente", segundo informações da Associated Press. A advertência a um aliado crucial na OTAN é uma atitude rara e a comunidade política parece concordar. Steven A. Cook, um especialista do Conselho de Relações Exteriores, afirma que a questão crucial é: "Como manter os turcos no seu caminho?" – ou seja, seguindo ordens como um bom país democrata.
 
Não há sinais de que outros países da região sejam mais favoráveis às sanções norte-americanas do que a Turquia. Paquistão e Irã se reuniram em Ancara, onde recentemente assinaram um acordo para a construção de um novo gasoduto. Mais preocupante para os EUA é que o gasoduto poderia ser estendido para a Índia. O tratado de 2008, em que os norte-americanos apóiam os programas nucleares da Índia, busca justamente impedir que este país se una ao gasoduto, de acordo com a avaliação de Moeed Yusuf, conselheiro em assuntos do Sul da Ásia no Instituto de Paz dos EUA.
 
A Índia e o Paquistão são duas das três potências nucleares que se recusaram a assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Israel é o terceiro. Todos eles produziram - e ainda produzem - armamentos nucleares com o apoio dos EUA.
 
Nenhuma pessoa em sã consciência quer que o Irã ou qualquer outro país passe a desenvolver armas nucleares. Uma maneira óbvia para atenuar ou eliminar esta ameaça é estabelecer uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio. Esta questão foi levantada (de novo) na conferência para o TNP nas Nações Unidas, no início de maio. O Egito - como o presidente do Movimento dos Países Não-Alinhados, que inclui 118 países - propôs que a Conferência aprovasse um plano para iniciar a negociação para um Oriente Médio livre de armas nucleares em 2011, como foi feito pelo Ocidente, incluindo os EUA, em 1995. Washington ainda esta formalmente de acordo, mas insiste que Israel seja isento de cumprir o acordo, e não deu qualquer indicação de que o próprio EUA irá fazê-lo.
 
Ao invés de tomar medidas concretas para combater a ameaça de proliferação nuclear no Irã ou outros países, os EUA estão se movimentando para reforçar seu controle nas principais regiões produtoras de petróleo no Oriente Médio, usando inclusive a violência, se não alcançam seus objetivos por outros meios.
 
 
Fonte: http://blogs.publico.es/noam-chomsky/10/nubes-de-tormenta-sobre-iran/
Tradução: Débora Prado

27 de jul. de 2010

Bálcãs só são viáveis na União Europeia, diz escritor Ismail Kadaré

 Em entrevista à Folha, o escritor albanês Ismail Kadaré defendeu a entrada de seu país e dos vizinhos balcânicos na União Europeia como "única alternativa" de torná-los viáveis.
Embora a Albânia aspire entrar na UE, não há hoje perspectiva para isso --o mesmo sobre os vizinhos.
Para o autor do recém-lançado "O Acidente" --uma história de amor em paralelo à convulsão política na Albânia--, a autonomia do Kosovo não pode ser posta em causa. A independência da província foi ratificada pela corte máxima da ONU na semana passada, depois de realizada a entrevista.
Kadaré, que vive na França, possui idiossincrasias no contato com jornalistas. Evita falar sobre seus próprios livros. Prefere ser entrevistado pessoalmente. Não responde a algumas perguntas.
Foi marcada uma entrevista por telefone. A reportagem ligou no dia acertado, mas ele afirmou que não combinara nada. Em seguida disse que seu telefone estava com defeito e por fim pediu para enviar perguntas por escrito. Um mês depois, mandou as respostas a seguir.

Eloy Alonso/Reuters
O escritor albanês Ismail Kadaré, que está lançando no Brasil "O Acidente"
O escritor albanês Ismail Kadaré, que está lançando no Brasil "O Acidente"
Folha - Num trecho de "O Acidente" a personagem se pergunta se a liberdade na Albânia não se transformou num grilhão, com excesso de luxo e dinheiro, a busca do tempo perdido. É a sua opinião?
Ismail Kadaré - Tendo sonhado a liberdade por tantos anos, quando ela chega as pessoas tendem a ressaltar sua perfectibilidade. Claro que, por muito tempo, a liberdade nos países ex-comunistas será interpretada assim. Mas não creio que possa ser comparada à prisão.
A entrada da Albânia na União Europeia é viável? O ingresso na Otan foi o primeiro passo? O que falta?
Não somente a Albânia, mas nenhum país da península balcânica é viável sem integração na União Europeia. Não é um luxo, mas a única alternativa. A entrada da Albânia na Otan é, sem dúvida, um primeiro passo. A Otan tem uma autoridade moral particular aos olhos dos albaneses porque fez a única intervenção militar para proteger sua liberdade.
A independência do Kosovo é de fato?
O Kosovo é livre. É o ponto mais importante. O resto é secundário. Pode voltar à estaca zero se sua independência for posta em causa.
Acredita na união entre Albânia e Kosovo?
A vontade do povo kosovar, em acordo com a comunidade internacional, pode decidir por algo assim. A paz é importante em todo lugar, mas é ainda mais nestas regiões que ainda não a conhecem verdadeiramente.
Um dos líderes mais criticados da história contemporânea, Bush era até recentemente herói na Albânia. Como analisa?
É simples: Bush encarnou a América. Bem antes dele, [o fez] seu predecessor e antigo opositor político, Bill Clinton --os dois foram muito próximos dos albaneses por terem estado no centro da história do país no momento crítico.
Pensa em voltar à Albânia, ou a França se tornou o seu país?
Há muito não me considero mais alguém que deixou a Albânia. É verdade que divido meu tempo entre a Albânia e a França, mas ainda sou um escritor albanês, escrevendo na minha língua. Minha presença nos dois países me parece natural.
Mantém contato com Walter Salles [que adaptou ao cinema "Abril Despedaçado]?
Mantenho excelente relação pessoal com ele. Nosso último encontro aconteceu no Café Rostand, em Paris, em frente ao Jardim de Luxemburgo, onde vou quase todos os dias. Um dia, na mesa vizinha, vi um perfil conhecido, que me fez dizer para mim mesmo: eis alguém que me lembra Walter Salles. Neste momento, ele virou em minha direção, cheio de vida: era ele mesmo!

Até o polvo entrou na dança

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, atacou nesta terça-feira o polvo Paul, considerado "vidente" por adivinhar os resultados dos jogos da Copa do Mundo.
Para o líder do Irã, citado pelo jornal britânico "Daily Telegraph", o animal marinho é um "símbolo de tudo o que há de errado no mundo ocidental" e mostra a "decadência entre os inimigos do Irã".
Paul, que vive no Centro de Vida Marinha de Oberhausen na Alemanha, ganhou a simpatia dos espanhóis ao prever que o país seria o campeão da Copa.

Reuters/AP
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ataca o polvo Paul, que adivinhou resultados de jogos da Copa
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ataca o polvo Paul, que adivinhou resultados de jogos da Copa
Ahmadinejad ainda acusou o polvo de "espalhar propaganda ocidental e superstição".
O molusco já havia sido mencionado pelo presidente do Irã em outras ocasiões durante discursos em Teerã.
"Aqueles que acreditam nesse tipo de coisa [as previsões do polvo] não podem ser líderes de nações que aspiram, como o Irã, à perfeição humana, baseando-se no amor e nos valores sagrados", disse ele na ocasião.
Durante a Copa do Mundo, Manouchehr Mottaki, ministro iraniano das Relações Exteriores, havia afirmado que os inimigos de seu país "mereceram" a eliminação de seus times na Copa, referindo-se aos Estados Unidos, ao Reino Unido e à França.
Para Mottakid, estes países "tiveram o que mereciam" depois de apoiar uma nova rodada de sanções na ONU (Organização das Nações Unidas) contra o Irã por conta de seu programa nuclear, que o Ocidente teme ter como objetivo uma bomba atômica. Teerã nega a acusação.

25 de jul. de 2010

Ainda bem que é só o físico...

... que o concurso de sósias do Ernest Hemingway procura... ainda que no site onde li a notícia, o ganhador "compartilhava" do grande autor de "O velho e o mar" o gosto pela bebida, pesca e mulheres. Serão essas as características que devem ser lembradas do velho do mar?

22 de jul. de 2010

Análise...

Faz um tempo que eu não via foto tão precisa sobre um momento tão, digamos, complexo. No ato de rompimento das relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia, lá estava o Maradona:







Qual uma legenda possível para a imagem acima?