30 de dez. de 2010

Fim do ano, útlima postagem...

Caros leitores, aí vai a última postagem do ano... novas esperanças, novas expectativas...

"É sempre igual a luta do que é antigo, do que já existe e procura subsistir, contra o desenvolvimento, a formação e a transformação. Toda a ordem acaba por dar origem à pedanteria e para nos libertarmos dela destrói-se a ordem. Depois, demora sempre algum tempo até que se ganhe consciência de que é preciso voltar a estabelecer uma ordem. O clássico face ao romântico, a obrigação corporativa face à liberdade profissional, o latifúndio face à pulverização da propriedade fundiária: o conflito é sempre o mesmo e há-de sempre dar origem a um novo conflito. Deste modo, a maior prova de entendimento por parte do governante seria regular essa luta de tal maneira que, sem prejuízo de cada uma das partes, conseguisse manter-se equidistante.
É, no entanto, uma possibilidade que não foi dada aos homens, e Deus não parecer querer que assim aconteça".

Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'

29 de dez. de 2010

Cinema, para o fim do ano...




Olá leitores,

A indicação acima é do filme baseado na obra de Jon Krakauer "Into the Wild", dirigido por Sean Penn. Alguém já assitiu?

22 de dez. de 2010

Neil Gaiman diz tentar fugir de rótulos e declara amor ao surrealismo

da Folha.com
MARCOS FLAMÍNIO PERES

Na boa tradição do gótico inglês do século 18, o escritor Neil Gaiman situa o cenário de "Coraline" em um casarão isolado e imponente no alto de uma colina. Lá vive, com o pai e a mãe, a heroína de sua "graphic novel".

Entediada com as férias escolares, Coraline descobre uma porta na sala de visitas que dá para uma parede murada. Ela se abrirá --e somente a ela-- para um mundo duplicado, onde reside uma versão "do mal" de seus pais: olhos costurados com botões, unhas enormes e aparência cadavérica.

Como o duplo é uma das imagens mais recorrentes na literatura romântica, a primeira pergunta ao escritor inglês, que falou à Folha, recai sobre a influência desse movimento em sua obra.

"Não sei! Hesito em rotular minhas obras porque essa não é a tarefa do artista. Sua tarefa é criar --cabe aos outros rotular! Quando a gente acredita em rótulos, acredita que existem regras, naquilo que se deve ou não fazer. Algumas vezes me dizem que sou um neoclássico ou um pós-moderno, mas são apenas formas que encontram para descrever o que faço."

Persistente, o entrevistador tenta mais uma vez. "Coraline" lida com um mundo onírico, vetado aos adultos. Isso tem a ver com o surrealismo? "Amo os surrealistas; sempre amei!"

Ufa!

E Gaiman prossegue: "Quando era um garotinho, adorava os quadros de Dalí, e, mais tarde, descobriria André Breton [francês, autor do "Manifesto Surrealista", de 1924, a bíblia do movimento]. Há momentos em 'Coraline' que são puro surrealismo, em que a escrita se aproxima de um "estado infantil".

É por isso que os sonhos são tão importantes em sua obra? (Sua série clássica,"Sandman", é protagonizada justamente por Morfeu, a personificação dos sonhos).

"Sim, porque os usamos para representar tantas coisas... Mas, basicamente, duas: loucura, selvageria e também aspiração _aquilo que gostaríamos de ser. Nos sentimos fracassados na vida real se não conseguimos preencher nossos sonhos. Se conversarmos com alguém cuja vida foi arruinada, lhe dirá: 'Eu costumava ter sonhos, mas deixei de tê-los'!"

Lembra-se de seus sonhos? "Hoje, não! Mas era muito bom nisso quando escrevia 'Sandman'."

É de imaginar, então, que o autor inglês costume ler Freud...

"Não, embora pareça. Li um pouco no final da adolescência e aos vinte e poucos anos, quando pesquisava para 'Sandman'."

Mas ele é importante para o senhor?

"O que resume Freud para mim está no comentário de Sandman. Na 'Casa de Bonecas' [livro da série 'Sandman'], Morfeu e Rose [Walker] estão voando lado a lado quando ela lhe diz: 'Você sabe o que Freud disse sobre o significado de voar, nos sonhos? Disse que, de fato, você está sonhando em fazer sexo'. E Morfeu pergunta: 'Ok, mas então qual é o significado, em seu sonho, de fazer sexo?'. E ela não tem resposta para isso."

Bernardo Gutiérrez - 4.jul.2008/Folhapress
O escritor inglês Neil Gaiman em visita ao Brasil em 2008
O escritor inglês Neil Gaiman, que disse tentar fugir dos rótulos e ser amante do surrealismo, em visita ao Brasil em 2008

BRASIL!

Gaiman sabe do apreço que desfruta no Brasil. Quando esteve na Flip, em 2008, lembra que "apareceram 1.600 pessoas na minha sessão de autógrafos. Em Nova York, Chicago e Los Angeles, não reúno mais que 300!"

E como explica esse fenômeno? Não será porque nos EUA as HQs sejam parte da cultura há muito tempo?

"Não sei explicar todo o fenômeno, e por isso ele me fascina. Os leitores brasileiros me parecem incrivelmente espertos, mas há uma série de coisas trabalhando contra. Uma delas é que o sucesso das HQs no Brasil começou no momento em que o Ocidente também o descobria. Isso tornou os livros caros para o padrão daí."

Mas Gaiman tem outra explicação, de ordem cultural.

"Também tive a impressão de que no Brasil muito poucas pessoas falam inglês. Isso quer dizer que elas ficaram por um tempo à mercê da indústria editorial e da situação da economia."

GRANDES NOMES

Qual a diferença entre HQs americanas e europeias? "Se você me fizesse essa pergunta 25 anos atrás, poderia facilmente lhe dar uma resposta. Mas hoje as coisas mudaram --e estão mudando."

Todos influenciam todos?

"Exatamente. De um lado a outro do planeta, todo mundo lê todo mundo."

E quais são os escritores e artistas mais importantes no cenário atual?

"Os mais importantes artistas são também os melhores escritores. São os responsáveis pelo que se fez de melhor nos últimos 15 anos. A adaptação que Robert Crumb, que começou no underground, fez para o 'Gênesis' é uma obra-prima."

Alguém mais? "Art Spiegelman, Chris Ware Linda Barry [todos americanos]..."

A internet mudou o gênero? "Mudou tudo! Porque você sabe muito rapidamente o que o outro está fazendo. E, com o iPad, está ficando cada vez mais fácil ler quadrinhos. O jeito de fazer também mudou, e isso me apaixona."

Em que trabalha agora?

"Em um livro de não-ficção sobre mitologia chinesa, a história de um rei macaco. Em também em um episódio para a TV inglesa."

E conclui, enfático: "E transmita todo o meu amor ao povo brasileiro".

20 de dez. de 2010

O filósofo Charles Harper




por Luiz Felipe Pondé para a Folha

Adoro televisão! Curto muito o dr. House e sua visão trágica de mundo (aliviada estes dias porque ele está pegando a chefe, a dra. Cuddy, e sempre que pegamos alguém a tragédia da vida se dilui na doçura do sucesso sexual, não?).

Hierarquias de poder são grandes afrodisíacos, seja quando envolve mulheres acima (chefes), seja com mulheres abaixo (secretárias). O cinema explora isso há muito tempo com sucesso de bilheteria.

Calma, cara leitora. Não engasgue. Brinco. Aliás, brinco muitas vezes, mas nunca sabemos até onde vai a brincadeira no mundo, não é? Dúvidas são como neblina numa estrada. Escondem curvas e acidentes mortais ou nada além da própria monótona neblina.

Mas tenho um outro herói na TV: Charles Harper, da série "Two and a Half Men". Tenho um amigo que a deu de presente para seu jovem sobrinho. Acertou em cheio: essa série deveria fazer parte da formação de todo menino hoje em dia, porque vivemos em épocas sombrias. A propósito, deveríamos dar de presente neste Natal a coleção inteira de Monteiro Lobato só para deixar os fascistas da censura das raças bravos. Se vivessem na Alemanha nazista, esses fascistas fariam fogueiras com livros do Monteiro Lobato.


Na agonia de diminuir as baixarias do mundo, estamos mesmo é gerando meninos inseguros e confusos e ainda tem gente por aí que nega isso. Sei que escolas "ensinam" em sala de aula que as "mulheres são oprimidas" já na sétima série! Ouvindo isso, fico feliz que já tenho 51 anos e que pude crescer num mundo onde as mulheres não eram "esse bicho de sete cabeças" que viraram. Pena. Agora sofrem com carinhas medrosos e chorões... e fóbicos que não aguentam compromissos. Ainda bem que a velha seleção natural do Darwin impede que a maioria delas acredite nas baboseiras que falam por aí sobre meninas oprimidas na sétima série. Homens e mulheres se amam para além do "ódio de gênero".

Voltando ao filósofo Charlie. O duo dele e seu irmão Alan é ceticismo puro para com as modas do comportamento "correto". Um estudo do comportamento masculino que deixa muita ciência "das masculinidades" (que nome horroroso!) no chinelo. As "militâncias" transformaram muitas mulheres em zumbis emancipados e agora se preparam para fazer o mesmo com os coitados dos caras.

Alan é o típico homem inseguro, mentiroso, "loser", que se esconde no blá-blá-blá atual da "sensibilidade masculina". Mas sua muito para pegar alguém. Falido, "massagista" que queria ser médico, expulso de casa pela sua ex-mulher, Alan vai morar com seu irmão Charlie e leva seu filho, Jake (uma prova de que corremos risco de extinção por estupidez). Charlie é seu oposto: bem-sucedido financeiramente, ganha muita grana fazendo jingle publicitário (o suficiente para deixar as "freiras feias" da esquerda nervosas) e pega todas.

Claro que estamos no mundo dos tipos superficiais de comédias. A vida dos homens não é nem Alan nem Charlie. A sociedade do sucesso (material, sexual, afetivo) de hoje é um fracasso: tortura meninas para serem magras e meninos para darem dez sem tirar. A verdade é que a série brinca com os sucessos vazios dos dois irmãos e expõe a dura realidade: o sucesso na vida afetiva não existe.

Uma pérola para você: num dado momento, Alan reclama que seu irmão Charlie está ensinando bobagens para seu filho. Os dois conversavam sobre mulheres. Alan diz "uma relação é construída com sinceridade e respeito pelo outro" (mentira, ele é um dissimulado, como todo mundo que diz "respeitar o outro"), ao que seu irmão Charlie responde: "Nada disso, uma relação se constrói com diamante e Viagra". Voilà.

Moral da história: para além do blá-blá-blá da "sensibilidade masculina" e da idealização dos afetos (comum em épocas como a nossa, dominada pela sensibilidade infantil da classe média), a maioria das mulheres quer mesmo é homens com "poder" e seguros, que saibam dizer "não" para elas e "sustentar" um mundo onde elas se sintam amadas. A questão é: tem algum cara que queira pagar a conta? Amor é luxo.
Espero que você ganhe um diamante nesta semana.

3 de dez. de 2010

Fim do ano #1

Olá leitores do blog,

O tempo dos professores é escasso. Talvez saibam disso, por isso deixei de postar aqui por um tempo. Mas o assunto do momento é Wikileaks. O site encabeçado por Julian Assands é assunto na imprensa mundial. E foi dito, de forma bastante oportuna, que tem sido o pesadelo dos diplomatas e o sonho dos historiadores. De fato, mas por quê?

A diplomacia atual, ou melhor: a grande parte dela, tem feito o trabalho de manutenção do status quo global, pouco se preocupando com alterações estratégicas. Os documentos publicados pelo site, especialmente os concernentes aos Estados Unidos, chamam atenção, porque sabe-se ou especula-se que existe armamento nuclear na Europa Oriental (não na Rússia, que sabemos não ser novidade) mantido pelos estadunidenses, além das galhofas dos embaixadores yankees pelo mundo, como o Brasil.

De um lado, os que se preocupam em tapar buracos, em por panos quentes. De outro, os que se preocupam em revelar a verdade. Discordo da afirmação. Quem garante que existem somente boas intenções em publicizar documento confindenciais, segredo de Estado? Ninguém. Quem garante que os próprios representantes - diplomatas - não sustentam ações como essas para subjetivar ou tornar indiretas as ações oficiais?



Já os preocupados com a verdade, não estão lá assim tão preocupados. Ainda é preciso muito tempo para analisar o que vem ganhando luz através do site e existem aqueles que defendem a ideia de ocultamento de certas informações.

No fim de tudo, vejo que há muita palha pra ser queimada e muita gente com coquetel molotov nas mãos. Com a salvaguarda política e não da "liberdade" Estados e Wikileaks querem é esquentar a Guerra Fria, que paradoxalmente, ainda esta aí. Logo ao alcance do seu navegador.