27 de nov. de 2009

A África também é aqui

By Redação Carta na Escola

Para Ana Lúcia Silva Souza, a história da África já está dentro da sala de aula, nas músicas, nas linguagens. Faltam, agora, material adequado e professores mais bem preparados

Passados seis anos desde a aprovação da lei que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira no currículo­ oficial das escolas de nível fundamental e médio, ainda são grandes as limitações na formação de professores, gestores e outros profissionais da educação e na oferta de material didático. Assim, o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil e a cultura negra brasileira ainda não chegaram a grande parte das escolas públicas e privadas. Nesta entrevista a Lívia Perozim, a socióloga Ana Lúcia Silva Souza, pesquisadora de práticas de letramento juvenis no movimento hip-hop e consultora de projetos na organização não-governamental Ação Educativa, explica como professores de diferentes áreas podem abordar o tema em sala de aula, focando, com uma visão menos eurocêntrica e antirracista da história, a integração dos povos africanos no Brasil, no passado e no presente.

Carta na Escola: A introdução do ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo é uma conquista do movimento negro ou da sociedade em geral?
Ana Lúcia Souza: É uma conquista para a sociedade começar a discutir essa questão. Inegavelmente, essa conquista é fruto de 400 anos de lutas, reivindicações de grupos e movimentos sociais. Todo esse caldo deságua agora em preposições e pressões para que a Lei 10639/03 e outras medidas de ações afirmativas sejam implementadas pelo Estado brasileiro.

CE: O que se agregará ao ensino da história do Brasil?
ALS: Agregará história. Não dá para você pensar na história do Brasil sem pensar na africana e na afro-brasileira. Nós estamos falando de uma mudança na LDB (Lei de Diretrizes Base da Educação Nacional): vamos pensar que os livros didáticos trarão diversos momentos e aspectos de história e cultura afro-brasileira dentro da história do Brasil e não separados dela. Vamos pensar que vamos ter, também, livros específicos de historia da África e da África no Brasil, de outros tempos e de hoje. A partir do momento em que a lei existe, muda a discussão sobre formação e currículo. Está na LDB. Todos os envolvidos com educação terão de estudar a temática para sermos profissionais mais autônomos, assumindo um compromisso com uma educação antirracista no cotidiano.

CE: O que o professor precisará conhecer sobre a história da África?
ALS: Eu sou da área de sociologia e me interessa pensar que a história e a cultura da África estão dentro da sala de aula, nas roupas, nas músicas, nas linguagens. Como é que a gente entende essas estatísticas de mortalidade juvenil negra? A própria mídia já diz: nós sabemos quem morre, onde, a idade, a cor, o sexo. Isso é entender os conflitos, os baixos índices de aproveitamento. As avaliações educacionais denunciam: a população negra avança tanto quanto a população branca em termos de aumento dos anos de escolaridade. Mas ainda há um hiato, uma herança. Todos os índices de educação infantil, fundamental, ensino médio e superior são desfavoráveis à população negra. Não estamos falando de conteúdos pontuais para explicar o racismo, a discriminação e o preconceito. Falamos de reeducação das relações raciais na e para a vida. O trabalho do professor estará quando for selecionar uma imagem ou uma música. É aí que precisamos aprender a potencializar o que alguns professores já sabem fazer, e muitas escolas ainda não.

CE: A senhora poderia explicar melhor esse conceito de cultura afro-brasileira: existe uma cultura brasileira separada da afro-brasileira?
ALS: Existe uma cultura afro-brasileira, singular, que é parte desse processo histórico de construção da cultura brasileira. Um exemplo: é comum ouvir que as famílias pobres e negras são desestruturadas. Isso porque estamos pensando em uma estrutura familiar que vem de uma concepção europeia. Nos arranjos advindos dessas organizações africanas, temos famílias estendidas: pai, mãe, tio. As famílias chegavam estilhaçadas aqui e formavam outros agrupamentos. Isso quer dizer que nesse arranjo familiar você tem a cosmologia africana, os ritos, as formas de rezar, de comer, de cultuar a vida. E isso é processo de uma cultura que se arranja dentro e com outras culturas.

CE: Que aspectos dessa cultura afro-brasileira estão presentes no dia a dia?
ALS: Precisamos desconstruir essa ideia de querer mostrar o que é “contribuição” dos negros na cultura e abordar de maneira crítica, é participação, é influência. A cultura africana influenciou na língua. Como? Se pegarmos algumas palavras que estão relacionadas à alimentação, vamos escolher aquelas que dizem respeito à sobrevivência dessa africanidade. Na comida: abará, acaçá, acarajé, quiabo e inhame estão ligadas à religiosidade de matriz africana. Fica o que significa? Fica o que faz parte da vida das pessoas, circulou no cotidiano e foi recriado. Por que ficam essas palavras e não outras? Isso significa uma forma de resistência dentro desse cotidiano. Outra coisa é essa musicalidade, que é uma maneira, muitas vezes cifrada, de lutar por meio da linguagem. Isso nos obriga a repensar como a gente olha para o axé, o samba, o hip-hop. Minha tese é sobre a linguagem do hip-hop. É através dela que os meninos ensinam o que eles gostam, querem, o que faz sentido para eles. A sala de aula é um lugar de múltiplas identidades.

CE: A participação dos escravos negros em revoltas, como a Balaiada, no Maranhão, a revolta dos Malês, na Bahia, é pouco explorada em sala de aula ou foram levantes de menor importância?
ALS: Tivemos um projeto político, que passa pela escola, de construção de uma nação que trabalhou muito para embranquecer a história Os materiais didáticos fazem parte desse projeto. Aumentam o espaço, mas não mudam a abordagem, que precisa, necessariamente, ser mais crítica.

CE: Isso está mudando? Já há uma produção maior de livros didáticos sobre a história da África e dos africanos no Brasil?
ALS: A história começa a ser recontada. Há novos materiais, mas ainda com pouca circulação e baixa escala. Há algumas editoras especializadas e estudiosos do tema cujo foco são materiais de referência para o professor, mas ainda não são materiais didáticos. O Programa Nacional do Livro Didático do MEC tem a tarefa de incorporar essa discussão para todas as áreas. Se na sala de aula o livro didático ainda é soberano, temos de fortalecê-lo.

CE: Já existem boas fontes de pesquisa para professores nessa área?
ALS: Sim, existem. Há que se procurar.­ Talvez a área do ensino médio esteja mais enfraquecida nesse sentido e tenha a menor quantidade de livros didáticos.

CE: Episódios que envolveram quilombos serão mais abordados nos materiais?
ALS: Eles têm de abordar. Ou então a gente está brincando de fazer política pública. Precisamos colocar em evidência os mecanismos de pressão e monitoramento do Estado.

CE: O Quilombo dos Palmares opôs a mais longa e forte resistência ao poder colonial. Qual era a estratégia dos líderes para enfrentar as forças do governo?
ALS: Sabe-se hoje que eles tinham em Palmares barricada, trincheira, oficinas, conselhos deliberativos, plantações. Toda uma história que conhecemos pouco. Era uma organização intencional, um conglomerado. Zumbi nasceu em Palmares, foi sequestrado de lá e entregue a um padre. Alfabetizado, ele volta para Palmares aos 15 anos e troca de nome. De Palmares ele volta para Palmares. Quantas dezenas de revoltas eles resistiram até cair?

CE: Os professores estão preparados para aplicar esse conteúdo? Se não, quanto tempo levará para que se forme esse quadro docente?
ALS: Os professores não estão preparados, mas, de qualquer forma, a formação inicial e continuada de professores é fundamental. Para além das ações individuais, é política pública, como as que estão no Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O trabalho em torno da lei é coletivo e diz respeito a diversos atores e instâncias sociais e políticas. Para além da sala de aula , precisamos saber a quantas andam as verbas, as instâncias de gestão e de participação.

12 de nov. de 2009

Sem carne, sem osso (da Carta Capital online)

Love robot, é uma das telas expostas na mostra Venus Robotica: sex-robot sur catalogue, em Paris. A boneca, obra de uma artista que assina June-1, é um dos quinze trabalhos de várias tendências artísticas cuja missão é inspirar designers a construir as robôs humanoides mais sedutoras do futuro. Thierry Ruby, o diretor do Cabinet des Curieux, onde Venus Robotica acontece até o fim de dezembro, lança: “O tema é atual”. Atualíssimo.

Segundo o britânico David Levy, campeão internacional de xadrez, expert em inteligência artificial e autor do best seller Love + Sex With Robots (Harper Perennial, 2007, 334 págs., US$ 14,95), atualmente não é sequer possível imaginar os avanços que serão realizados nos próximos três anos nas (e nos) robôs humanoides. No seu best seller, Levy sustenta que até 2050 será normal alguém ter uma relação íntima com um robô. Mais: será comum uma pessoa se apaixonar por um(a) robô humanoide – e se casar com ele(a). E ter ciúmes da ou do robô humanoide.

Os japoneses estão na vanguarda dessa nova onda de produção de robôs humanoides, os futuros membros de uma sociedade nipônica semelhantes ao mundo futurista criado por Ridley Scott no filme cult Blade Runner, o Caçador de Androides. Os motivos são dois. Primeiro: ao contrário dos inventores franceses de outrora, os nipônicos entenderam há dois séculos que, explica Levy, “os autômatos são mais atraentes se apresentados à guisa dos humanos”.

Dito de outra forma, a interação com um robô fisicamente semelhante a um ser humano seria mais fácil do que aquela entre uma pessoa – e, digamos, um extraterrestre. E aqui vale acrescentar: no Japão, quando algo toma o aspecto de uma pessoa, esse objeto pode, potencialmente, passar a possuir um espírito, ou um tamashii. O segundo motivo pelo qual os japoneses estão na vanguarda da produção de robôs humanoides é demográfico. Num país com uma população que envelhece em alta velocidade, cientistas nipônicos de todas as áreas resolveram unir forças para substituir a mão de obra humana pela robótica. Além do apego à ciência, pode-se detectar uma ponta de protecionismo racial na decisão.

E assim os japoneses construíram robôs para trabalhar nas linhas de montagem de fábricas. E, por serem tão fiéis a seres vivos nos seus projetos, os cientistas japoneses por vezes chegaram, através de seus rebentos, a comover. Por exemplo, o cachorrinho-robô Aibo, da Sony, é, segundo pesquisas, tão adorado quanto cachorros normais. Certamente, os robôs-enfermeiros capazes de ajudar os mais velhos também terão, graças à sua aparência física e inteligência artificial, um lado humano. Este, diga-se, é um projeto da Toyota para 2010. Parece que esses enfermeiros servirão chá.

E se forem enfermeiras?

Quem sabe poderia ser uma sedutora robô e, no caso, versada em poesia, regras da etiqueta e entretenimento de senhores das cortes. Em suma, uma gueixa, como nos velhos tempos. E eis uma pertinente questão: ela, robô-gueixa, poderia satisfazer os desejos sexuais de certos senhores idosos, ou até menos idosos? Esta é uma área -–-- --particularmente- nos caso das ainda existentes gueixas – na qual os próprios japoneses parecem titubear. Gueixas se prestavam ou não a atos sexuais? Sabe-se que flertavam, e flertam. E o flerte em si, e a incerteza de uma relação mais íntima, parecia ser suficiente para excitar (não se sabe ao certo de que forma) numerosos japoneses.

Aparentemente, no século XVI as gueixas pintavam e bordavam no quesito sexual. Em plena Segunda Guerra Mundial, as gueixas deitaram e rolaram com marines atrás de biombos, donde sua atual reputação no Ocidente. Mas, independentemente da reputação no passado, e no futuro das ainda existentes gueixas, tudo leva a crer que as robôs nipônicas são no mínimo servis. Mas até que ponto elas seriam atraentes como uma verdadeira gueixa?

Vejamos. A Love Robot, na mostra Venus Robotica, não pode ser considerada desejável. June-1 fez um interessante trabalho artístico, mesclando o fantástico com o surrealista, com uma pincelada de gótico. Mas, na vida real, a mão esquerda da boneca está separada do antebraço por fios. Isso não seria preocupante antes do ato sexual? Os joelhos, para piorar o quadro, parecem desconjuntados do corpo. E, contudo, como concorda o próprio dono da galeria Thierry Ruby, “Love Robot é a boneca que mais se aproxima das atuais”.

A Actroid DER2, desenvolvida na Universidade de Osaka e produzida pela Kokoro, foi lançada em 2006 com algum sucesso. Não se trata de uma boneca concebida para o sexo, mas a associação é inevitável. Motivo: todas são apresentadas em shows, desfiles, etc. E são, em tese, mulheres. Produzidas desde 2003, as atuais Actroids podem ser visualizadas no YouTube. Elas têm pele de silicone e codividem pelo menos algumas semelhanças com mulheres. Graças aos seus pontos de articulação (47), respiram, piscam. E sua inteligência artificial lhes permite responder às perguntas (fáceis) feitas pelos curiosos.

Em março deste ano, a HRP-4C, a robô humanoide criada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada, foi apresentada em Tóquio. Ela seria uma robô-manequim, e poderia, sempre no campo hipotético, desfilar como Kate Moss. A HRP-4C teria, porém, formas da mulher -média no Japão, o que as deixa vários centímetros abaixo de uma modelo como a própria Kate. Pior: HRP-4C mede apenas 1,58 metro e pesa 43 quilos, incluindo a bateria. Ou seja, ela é baixa, para os parâmetros de uma modelo, e é gordinha. Ou seja, precisaria fazer um regime à base de proteínas.

HRP-4C caminha, o que ajuda no regime. Mas em Paris, a despeito de altura e peso, não permitiram que desfilasse. Quando anda, os joelhos da HRP-4C parecem ter molas, e assim a cadência da robô humanoide deixa a impressão de que ela preferiria se sentar. Ou será que não sabe usar saltos? De todo modo, está longe de ser sexy como a sempre citável Kate Moss. Contudo, a camada de silicone no rosto da robô chama atenção, dada a harmonia das feições. HRP-4C expressa surpresa, raiva. E sorri. Graças a sistemas de reconhecimento de fala, a robô se comunica. “Hello, everybody”, diz ela, sorriso nos lábios. A modelo-robô é, contudo, cara: o equivalente a 470 mil reais.

Muito mais barata e imensamente mais interessante é Aiko – e seu parceiro/inventor. Ele responde por Le Trung, um japonês de 33 anos que imigrou para o Canadá, aos tenros 8 anos. Trung é o clássico nerd. Com três diplomas universitários – química analítica, bioquímica e ciências gerais –, ele diz, no seu website, que tinha um sonho de garoto japonês: criar um robô. Assim, criou Aiko (“a amada”, em japonês).

O projeto começou em meados de 2007, quando Trung estava desempregado. Até agora, Trung, sem nenhum apoio, teve de desembolsar 20 mil dólares. Mas Aiko já desempenha várias funções. Ela pode ser desenvolvida para ser a mulher perfeita, pelo menos no parecer de Trung. De forma patética, ele pede doações para seu Projeto Aiko da seguinte forma: “Por favor, ajude um menino a realizar seu sonho”. Menino?

De qualquer forma, o resultado Aiko (veja no YouTube) é impressionante. Ainda mais quando se considera que seu autor é um cientista independente. Aiko possui, ou pode possuir, inúmeras competências, mas elas não são claras. Motivo: o site de Trung não é transparente sobre o que a robô já faz, embora o seja naquilo que não faz.

À parte os clips no YouTube, as fontes para esta reportagem sobre Aiko podem ser questionáveis. Por exemplo, artigos sensacionalistas de diários das ilhas britânicas elaboram sobre os jantares em restaurantes de Aiko e Trung (Aiko, contudo, não pode comer). Outros diários como o Daily Mail, também britânico, sustentam que Trung é um nerd tão ocupado que teve de “construir a namorada perfeita”. Parece, de fato, ser o caso.

CartaCapital tentou se aproximar de Le Trung para saber o que Aiko realmente é capaz de fazer hoje, e o que fará no futuro. Ele não respondeu, quem sabe por causa de algumas perguntas sobre suas eventuais relações sexuais com Aiko. Ele não poderia se apaixonar por ela?

No site de Trung, www.projectaiko.com, aprendemos que ele é, apesar de cientista, um tanto nostálgico. Trung jamais substituiria uma amiguinha sua que deixou no Japão, aos, vale lembrar, 8 anos, pela Aiko.

Também aprendemos que Trung, talvez por ter vivido tanto tempo no Canadá, deixou de acreditar, a despeito da mentalidade- de seus contemporâneos, que é possível transferir emoções ou um verdadeiro espírito para sua Aiko. A robô androide parece uma mulher e é dotada de inteligência artificial. Poderia passar a ter um espírito ou um tamashii?

Indagamos a Trung, por e-mail, que precederia uma entrevista telefônica (essa era nossa intenção) por que Aiko não poderia substituir sua pré-adolescente amada. Trung, vimos, fecha-se em copas. Protege sua intimidade. É possível que Aiko seja capaz de ler e enviar e-mails, de sorte que teria partido dela a decisão de vetar respostas a uma revista brasileira, talvez tão tendenciosa quanto os sensacionalistas diários britânicos.
Fiquemos, portanto, com o que nos diz a respeito de Aiko seu criador, Trung, no seu website oficial. Ela pode ser recepcionista. É capaz de usar a -internet, ler jornais e fazer relatórios. Nos aeroportos, ela detecta 250 fisionomias por segundo e, por tabela, poderia colaborar para os serviços de segurança. Aiko habilita-se, ainda, a dizer a que horas e de que portão parte um avião com absoluta precisão. Em casa, ela pode cuidar de crianças e de idosos.

E é, parece, grande companheira. No seu website, Trung nos garante que ela teria 20 e poucos anos. Aparenta, contudo, uns 12, se muito. Um problema que, no jargão de David Levy, o autor de Love + Sex With Robots, talvez terá de ser resolvido pela chamada “psicologia robótica” e, mais especificamente, por “robo-psicólogos” como Alexander e Elena Libin, especialistas no assunto da Universidade de Georgetown. Resumindo, estaríamos falando em pedofilia com robôs.

É possível que Trung, neste nosso mundo do politicamente correto, esteja abusando de uma robô adolescente. E assim poderá ter de lidar com a Justiça do futuro. Em I, Robot (1951), o escritor de ficção científica Isaac Asimov foi claro ao estabelecer as três leis da robótica. De todas elas sobressai-se um valor: robôs têm direitos. Trung parece desconhecê-los. Talvez ainda influenciado pelas suas leituras, ou conhecimentos mais aprofundados sobre gueixas, diz que ao aprimorar Aiko ela poderá ter vantagens como, entre outras:
1. Preparar café ou chá.
2. Servir sushi na boca.
3. Preparar ovos pela manhã.
4. Fazer massagem nas suas costas e no pescoço.
5. Limpar as janelas.
6. Limpar a privada...
Enfim, Trung parece, talvez, precisar de uma gueixa do século XVI, não de uma mulher do século XXI. Mas Trung tem relações sexuais com Aiko? Não, segundo o site da CTV News, de Ontário, Canadá.

E graças ao site da CTV News veio à tona o seguinte: Aiko tem sensíveis seios e vagina, graças a um sistema sensorial instalado pelo próprio Trung. Mas, ao formatá-la, ele se descuidou. Programas pornográficos da internet influenciaram o sistema de Aiko e, por tabela, seu vocabulário pode ser bastante liberal. Ou seja, a jovem robô fala sobre sexo como uma desbocada aluna de liceu de uma escola pública parisiense.

O enigmático criador diz que construiu Aiko como mulher porque uma androide seria menos ameaçadora do que um macho. Ao Daily Mail, Trung disse ter sofrido uma parada cardíaca e que Aiko seria uma excelente enfermeira para ele. Será que a gueixa caseira é mais enfermeira do que sex doll para o nosso Trung? Assim parece.

No entanto, para aqueles mais ligados ao sexo, honeydolls, produzidas no Japão (www.honeydolls.jp/en/gallery.html) seriam a resposta. São seis moçoilas nas quais a tecnologia robótica de ponta japonesa funciona em pleno vigor para o mercado do sexo. Entre elas, a empresa diz que Aki e Saori fazem felação. Elas têm 1,56 metro e todas as seis têm quadris e pernas rotativas. Algumas, ao toque no seio, gemem. Murmuram frases no ouvido do parceiro. Em suma, são concebidas com base na demanda do mercado japonês. Mas, dada sua qualidade, são exportadas mundo afora no prazo de 10 a 30 dias. Os preços variam, dependendo das exigências.

Robôs sexuais são compradas, diz David Levy, pelos mesmos motivos que uma prostituta satisfará as exigências de um homem, ou mulher. Com a vantagem da certeza de não haver complicações posteriores. Um robô poderá satisfazer práticas não adotadas na vida comum de um casal. Por exemplo, a mulher poderá usar o vibrador de um robô mais longamente do que ocorre no cotidiano. Como o do robô Gigolo Joe, encarnado por Jude Law no filme Artificial Intelligence, de Steven Spielberg.

Não faltam versões contrárias. Para Luc Arasse (www.arasse.net/), artista de vanguarda francês de 42 anos que esteve em Tóquio para filmar androides, sexo com robôs é pura fantasia. Por ora, pelo menos. No entanto, a busca de Arasse teve razão de ser. “Meu objetivo era fazer um arquivo sobre ‘máquinas sentimentais’”, disse-me ele. Ou seja, Arasse queria entender esses robôs que são feitos para nos amar. Um tema bastante interessante para um artista com uma forte base em sólidas universidades de Ciências Políticas e grande curiosidade intelectual em nível global.

“’Faz muito tempo, desde 1900, que essas robôs ou bonecas existiam, e eram e são feitas para ser amadas”, diz Arasse. Mas o que o interessava são as novas, capazes de dialogar e de interagir. “Ou, pelo menos, de adaptar seu comportamento ao meio ambiente”, diz Arasse. E isso, claro, implicaria um lado afetivo, por parte das bonecas ou bonecos. Nesse contexto, robôs teriam a capacidade de aprender.

A meta de Arasse era saber como os cientistas veem o comportamento desses robôs no futuro. Ao mesmo tempo, o artista queria entender por que eles dão esta ou aquela face, voz, etc. a um robô. Indaga Arasse: “Qual seria – e qual a base – para os cientistas produzirem um robô ‘quase humano’?” Sim, ele concorda que atravessamos um período de transição. “Aprenderemos a viver com eles e os acolheremos.” Contudo, ao filmá-las, Arasse percebeu que essas máquinas “decepcionam”. Diz: “Não senti nenhuma humanidade nos androides, apenas mecanismos aperfeiçoados”.

Atualmente, claro, em Tóquio, o mercado é de robôs que oferecem sexo. Bordéis de robôs. Como diz Levy, o mercado livre define futuras tendências. Se no momento o sexo na internet vale 12 bilhões de dólares, adivinha-se na área de robôs de sexo. No Japão, onde as gueixas estão desaparecendo, por uma questão de tradição, essa mutação poderia ser normal. E no Ocidente? Levy sustenta que robôs sexuais marcarão o fim da prostituição, a mais velha das profissões. Mas e o romance? Deckard, o detetive de Blade Runner, não se apaixonou pela replicante Rachael? Consta, contudo, que Deckard também era um replicante.

6 de nov. de 2009

O projeto Brasil e Estados Unidos: Expandindo Fronteiras, Comparando Culturas


Boa notícias a pesquisadores e interessados em geral...

Sobre o Projeto LINK

O projeto Brasil e Estados Unidos: Expandindo Fronteiras, Comparando Culturas explora a história do Brasil, as interações entre o Brasil e Estados Unidos desde o século XVIII até os dias de hoje, além de contrastar e traçar um paralelo entre a cultura e história brasileiras e americanas. O projeto é fruto de uma cooperação entre a Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso.

Utilizando a apresentação na forma digital de livros, mapas, gravuras e fotografias, manuscritos e outros documentos das coleções das duas bibliotecas parceiras, este projeto aborda cinco temas relacionados com a história do Brasil e interações entre Estados Unidos e Brasil: Fundamentos Históricos, Diversidade Étnica, Cultura e Literatura, Impressões Mútuas, e Biodiversidade. Fundamentos Históricos foi lançado em dezembro de 2003, as demais seções estão em andamento.

O projeto Brasil e Estados Unidos: Expandindo Fronteiras, Comparando Culturas faz parte de um projeto da Biblioteca do Congresso intitulado Global Gateway (Portal Global), uma iniciativa de construção de bibliotecas digitais em parceria com bibliotecas nacionais de vários países do mundo. O site da Fundação Biblioteca Nacional, parceira da Biblioteca do Congresso neste projeto, pode ser localizado no seguinte endereço: http://www.bn.br.