21 de fev. de 2010

Substituir o livro?

Em entrevista na FSP hoje, li algo sobre um tema que me preocupa bastante: o livro. O livro de papel. É possível ver frequentemente na TV ou até na internet uma tentativa de argumentar que o leitor de "livro virtual" (eles têm diversos nomes) subsitituirá o livro tradicional, pois é portátil e... o que mais? Bem, gosto tanto de livros (a despeito da necessidade ecológica de preservação) tradicionais que me encontrei na entrevista do proprietário da Livraria Cultura, abaixo:

Folha - Quando a internet surgiu como uma ameaça ao mercado de livros, você começou antes a vender online. Agora, que o livro eletrônico paira como ameaça ao livro de papel, o que a Cultura vai fazer?

Pedro Herz - Em março vamos disponibilizar 150 mil títulos em formatos para e-readers. Eu acho que é uma opção a mais para o leitor. Não vamos vender o hardware, só conteúdo. Os formatos são tantos que pode ser que você compre num formato que o seu leitor [equipamento] não leia. A Amazon fez isso com o Kindle, se você comprar um e-book na [livraria] Barnes & Noble e tem um Kindle, não conseguirá ler. Foi um tiro no pé da Amazon, obrigar o leitor a comprar no seu formato. É o carregador de celular que só serve no seu, uma ideia totalmente superada.

Os formatos são vários, dependerá de como cada editora vai digitalizar seus livros.

Vai ser uma barafunda, porque se você tem um formato e teu e-reader não lê, onde o leitor vai reclamar? É o que está acontecendo um pouco nos EUA, com a MacMillan e a Amazon, mas pela guerra de preços [por discordância sobre o valor dos livros, títulos da editora foram retirados do catálogo da Amazon, mas depois elas chegaram a acordo].

Não sei bem, está tudo muito cru, muito no início, e não sei bem como serão as vendas. Acho que bem pequenas.

Acho o e-reader uma ferramenta fantástica, mas daí a virar o substituto do livro... Já vi esse filme antes, já vi o VHS chegar e dizer que ia acabar com o cinema. Já vi, na Feira de Frankfurt, dizerem que o mundo ia virar CD-ROM, e o mundo não virou CD-ROM. Dois anos depois não se falava nisso, as editoras me falavam: "Pô, perdemos um dinheirão, admitimos um monte de gente e não deu em nada". A sensação que eu tenho é que a gente está vendo uma nuvem, que vai passar. Pode ser que chova, mas, num curto prazo, não vai acontecer nada.

Folha - O sr. tem e-reader, usa para ler?

Herz - Não, tem um monte na livraria, mas eu não uso.

Folha - E tem um monte para quê?

Herz - Pra conhecer. Eu estive em Nova York há pouco, passei dez dias, e fiquei muito atento a quantas pessoas eu ia ver lendo em e-reader. Gastei mais de US$ 80 em metrô, pra cima e pra baixo. Se eu te disser que vi um único cidadão com um na mão, você acredita? Em dez dias em Nova York, andando de metrô, onde todo mundo lia --ou uma revista, ou um jornal ou um livro--, eu vi uma pessoa com um e-reader. Um detalhe que me chamou a atenção foi que esse leitor lia segurando o aparelho com as duas mãos, e as pessoas que liam livros usavam uma mão apenas. São coisas interessantes. Dos leitores que entrevistei informalmente nas livrarias, 100% disseram que não vão trocar.

Folha - Em que medida o rebuliço em torno do e-reader se deve ao poder de marketing da indústria eletrônica?

Herz - Não só o marketing é tão forte como a indústria, qualquer indústria, tem necessidade de criar modelos novos, seja do que for, e escoar os modelos novos. E existem coisas paradoxais: todo mundo trabalha para ter mais tempo de lazer, aí chega a indústria e desenvolve um computador que é um centésimo de milésimo de segundo mais rápido do que aquele que você tem e tenta te convencer a comprar o desgraçado. Peraí, mas se eu quero ter mais tempo, por que meu computador tem que ser Fórmula 1? Eu não tenho certeza se as pessoas querem essa velocidade toda. Eu troco de carro a cada cinco anos, e sou um cara que ando pouco, quando compro um carro algum amigo já diz: "Esse carro é meu quando você vender". Se você me perguntar por que que eu troquei, eu não sei te responder direito.

Folha - Qual a principal desvantagem do livro de papel?

Herz - Imagina um advogado que vai fazer uma audiência no Acre e tem que levar aquela papelada do processo. Um editor de uma grande editora de livros, que recebe 50 livros novos por semana de todo mundo, para resolver se vai publicar ou não, ter isso digitalizado e num voo de 12 horas para a Europa ir dando uma olhada no que interessa ou não. É de uma utilidade fantástica, mas não sei se é a melhor ferramenta para o leitor de livros. E tem outra pergunta que eu faço: fará novos leitores? Quem não lê livro de papel, não vai passar a ler por causa do livro eletrônico. Eu não sei como reagirão os que estão na maternidade.

Acredito que quem faz leitor são os pais, inegavelmente. Os jovens leitores são filhos de leitores. Dificilmente aparece uma criança ou adolescente que não tenha os pais leitores. A grande campanha que na minha opinião deveria ser feita pelo governo é mais ou menos assim: "Se você não lê, como quer que seu filho leia?". Essa é a pergunta que deve ser feita. Porque os meus filhos "liam" sem ser alfabetizados, pegavam o livro na mão para imitar os meus gestos.

12 de fev. de 2010

Que graça tem se eu não divulgar?

Bem pessoal e leitores do blog,

O arquivo abaixo, disponível para download, é uma entrevista que concedi ao Programa Perfil Literário, da Rádio UNESP, na terça dia 9 de fevereiro. É que minha dissertação de mestrado foi editada pela editora da UNESP e será lançada como e-book, então, como o próprio título da postagem diz, "que graça tem se eu não divulgar"?

Gracejos à parte, quando eu estiver com o livro disponível vou encher a caixa de emails de vocês com ele, ok?

Grande abraço a todos,

11 de fev. de 2010

Arruda, corrupção e política brasileira: ¿ que hacer?

Em carta aos "amigos do GDF", Arruda lembra mensalão e saída de Collor

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da Folha Online

Após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decretar sua prisão preventiva por tentativa de suborno, o governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (sem partido) escreveu uma carta, de próprio punho, endereçada aos "amigos do GDF" (Governo do Distrito Federal). Segundo a assessoria de Arruda, o documento é destinado aos servidores e aos amigos pessoais do governador.


Em  carta a amigos do GDF, Arruda se diz vítima de campanha difamatória
Em carta a amigos do GDF, Arruda se diz vítima de campanha difamatória

No documento, o governador diz que é vítima de uma "campanha difamatória" que atinge "níveis jamais vistos na vida pública brasileira" e lembra nos "momentos mais graves" da política, como o "mensalão do PT" ou o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, atual senador pelo PTB de Alagoas, "não se viu medidas judiciais coercitivas dessa gravidade".

"Com muita fé em Deus, vou manter o equilíbrio e a serenidade para contribuir não apenas com a total elucidação dos fatos presentes mas também com uma mudança na legislação eleitoral e político brasileira, que dá aos vândalos os métodos próprios de sucessivas eleições e aos ingênuos as penas máximas da visão que impera, onde o importante não é seguir a lei, mas saber ludibriá-la", diz o governador na carta.

Segundo Arruda, as denúncias não atingem somente a ele, como governador eleito pelo povo, mas todo o GDF e Brasília. O governador também justifica seu pedido de licença e pede para darem seguimento aos projetos.

"Pedi licença do cargo que exerço para que, com o vice-governador Paulo Octávio, vocês possam dar seguimento a todas as obras e a todos os projetos que vínhamos executando", afirma.

Prisão

Arruda foi preso nesta quinta-feira por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). além do governador, outras cinco pessoas envolvidas na tentativa de suborno do jornalista Edson dos Santos, o Sombra, também tiveram a prisão decretada. O tribunal decidiu ainda pelo afastamento de Arruda do governo do DF.

O ministro Fernando Gonçalves aceitou pedido da subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, e a Corte do tribunal foi convocada para analisar a decisão de Gonçalves, relator do inquérito que investiga o suposto esquema de corrupção no GDF (Governo do Distrito Federal).

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra o governador e mais cinco pessoas por formação de quadrilha e corrupção de testemunha.

Intervenção

Após a prisão de Arruda, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ingressou no STF (Supremo Tribunal Federal) com pedido de intervenção federal no Distrito Federal. Gurgel disse que o pedido se justifica porque há no governo do DF uma "verdadeira organização criminosa" comandada pelo governador.

O procurador também usou como argumento para pedir a intervenção a falta de "condições mínimas" da Câmara Legislativa do DF tomar medida semelhante.

"Há uma organização encastelada no governo, com indícios de um esquema criminoso de apropriação de recursos públicos, inclusive com parlamentares envolvidos. O governador tem demonstrado que o andamento das investigações não tem impedido ele de continuar a atuar criminosamente, atuando para coagir testemunhas, apagar vestígios", disse o procurador-geral.

O advogado Nélio Machado, que defende Arruda, disse que desconhecia o pedido de intervenção, mas criticou a medida. "Acho que elegeram esse caso como exemplar e, com isso, se atropelam garantias fundamentais", afirmou.




1 de fev. de 2010

...

Esperemos

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.

Pablo Neruda (Últimos Poemas)