É comum as efemérides suscitarem reflexões. Talvez sirvam exatamente para isso, ainda que em muitos casos, como nos feriados nacionais, tornem-se desculpas para um "merecido" descanso. Feriado lembra comemoração. Lembrança remete a comemoração. Tá certo que não há o que comemorar no 11 de setembro, mas penso ser importante significar a palavra co-memorar, lembrar coletivamente. Eis o necessário em uma data que definitivamente entra para a história.
Muitos historiadores falam de "consciência histórica". E em 2001 a minha era relativamente estranha, pois ao ver imagens como as do vídeo abaixo
pensei que estávamos a beira de algum conflito mundial não esperado. Mas após uma década do ataque, o que mudou? Talvez seja essa a pergunta que as pessoas estejam fazendo, debatendo, respondendo. Para além das obviedades como o aperfeiçoamento na segurança pública, no monitoramentos aéreos... penso em algo que esteja mais, digamos, implícito a isso.
Defendo que observamos a partir de 2001 em diante a criação de um mito. Claro, um mito às avessas. Defendo isso porque é partir desse fato, daquele instante, o mundo oriental-islâmico catalisou as interpretações mais equivocadas sobre sua cultura, sociedade e claro, religiosidade. E a partir disso, passamos a explicar o comportamento daquelas pessoas.
Pensadores como Edward Said já haviam atentado para o processo décadas antes. E esses argumentos provam-se cada vez mais atuais, pois é contra os muçulmanos que são atiradas pedras de terroristas, fundamentalistas, enfim... generalizações que não fazem sentido. Não chegam a explicar. Muito menos a compreender sua cultura.
A criação da falácia "sou muçulmano, sou terrorista" foi em grande medida feita pelo ocidente e chamo atenção para isso. Esse é o exercício de reflexão que devemos realizar.
O que podemos fazer?
Repensar esse "mito invertido" , dissolvê-lo. Mais do que nunca essa é a ocasião para sermos iconoclastas.
Recomendo:
SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. SP: Cia das Letras, 1999.
__________. Orientalismo. SP: Cia das Letras, 2010.
HOBSBAWM, E.; RANGER, T. (orgs.) A invenção das tradições. SP: Paz e Terra, 1998.
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